
Seca e fome obriga 15 mil angolanos a migrar para o Norte da Namíbia
A seca cíclica que assola a região Sul do país, deixando rastos de fome para as populações das províncias do Namibe, Huíla e Cunene, está a provocar a migração de milhares de angolanos das províncias do Cunene e Huíla para o Norte da vizinha República da Namíbia
A denúncia foi feita pela Igreja Católica, num encontro com o Governo Provincial da Huíla, durante a visita
que visou avaliar os efeitos da seca naquela parcela do país, a mais afectada pela seca.
Segundo o responsável da Paróquia de Nossa Senhora de Fátima, no município dos Gambos, até ao momento já foram contabilizados um total de 15 mil angolanos, que fugiram a fome que assola os municípios dos Gambos na Huíla e do Curoca no Cunene, encontram-se refugiados no Norte da Namíbia.
O Padre Jacinto Pio Wakussanga disse que o número de cidadãos que abandonam o território nacional pode vir a aumentar, caso não sejam tomadas medidas concretas e permanentes, em função do velho problema que assola a região sul do país. Segundo o sacerdote católico e presidente da Associação Construindo Comunidades (ACC), até no passado dia 11 do mês em curso, pelo menos 30 pessoas da localidade de Tchihepepe preparavam-se para partirem para a vizinha República da Namíbia.
“Realmente, é preciso fazer-se um mapeamento real conseguindo assistência humanitária. A região de Homussaty, no Norte da Namíbia, por exemplo, está cheia de pessoas que saíram dos Gambos, do Curoca e de outras regiões do Sul do país, como refugiados climáticos”, revelou.
Segundo o Padre Jacinto Pio Wakussanga, os familiares dos cidadãos que já se encontram na Namíbia solicitam ao Governo Central a criação de uma comissão que possa deslocar-se à Republica da Namíbia, para proceder à avaliação das condições de vida dos refugiados climáticos.
FOI UMA INFORMAÇÃO QUE RECEBEMOS EM PRIMEIRA-MÃO, É UMA MATÉRIA SENSÍVEL E SÉRIA, VAMOS FAZER CHEGAR ÀS INSTÂNCIAS SUPERIORES E, PRONUNCIAREMOS, DEPOIS DE TERMOS IMPUTS SUFICIENTES SOBRE O ASSUNTO”
Nuno Mahapi Dála
Por outro lado, o sacerdote voltou a apelar ao Governo Central, para que declare um Estado de Calamidade Natural, tal como já o haviam sugerido os Bispos de Angola, durante a segunda plenária de 2020. “Com isto, estar-se-á a convidar as agências internacionais especializadas em desastres humanitários, a trabalhar no terreno para se acudir a situação com a parceria e apoio da administração local e dos parceiros”, recomendou.
Entretanto, o Governador Provincial da Huíla, que presidiu o encontro, disse que por se tratar de assunto que envolve duas soberanias, a intervenção no problema deverá ser tomada a nível central.
Para o efeito, Nuno Mahapi Dala, o governador, garantiu que fará chegar o memorando que recebeu da Igreja Católica às mãos do seu responsável nos Gambos, Padre Jacinto Pio Wakussanga, ao Governo Central, num curto espaço de tempo.
“Foi uma informação que recebemos em primeira-mão, é uma matéria sensível e séria, vamos fazer chegar às instâncias superiores e, nos pronunciaremos depois de termos inputs suficientes sobre o assunto”, disse.
Solução passa pela criação de projectos estruturantes
O problema da seca nos municípios do Sul do país arrasta-se há anos, entre os municípios da província da Huíla, Gambos é o mais afectado, sendo que 41 mil pessoas já se encontram em condições extremas.
O governador provincial da Huíla disse que a solução para o problema da seca, particularmente nos Gambos, passa pela criação de projectos estruturantes que possam gerar desenvolvimento sustentável.
Em seu entender, estes projectos estruturantes passam pela construção de barragens para a retenção de água, para que se possa praticar a agricultura, com vista a minimizar os efeitos da seca que assola milhares de pessoas.
“Não se pode continuar a discutir a entrega de alimentos para o município dos Gambos, nós temos de desenvolver todas as valências e o potencial que esse município tem para gerar uma autossuficiência local e, isso, passa pelo aproveitamento das linhas de água. Sabemos que o país está a viver momentos maus da sua economia, mas o bem vida é o mais importante, por isso, vamos continuar a aproveitar estes recursos que se vão perder no Oceano”, garantiu.
Fonte: Jornal O País